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sábado, 7 de maio de 2011

Sob as raízes de uma linda árvore

Ao lado do condomínio que eu moro, tem um terreno que as pessoas insistem em dizer que está vazio. Em verdade, ele não está vazio. Vejo muitos animais alí, que aproveitam a frondosa sombra de três arvores de "jambo", uma frutinha roxa que mancha a lingua de azul e da um aspecto engraçado aos dentes...
Sempre adimirei essas árvores, elas são realmente bonitas. Algumas vezes até, as visitei, apenas para ficar embaixo de suas sombras e observar os pássaros, que comiam tranquilamente as frutinhas.
Hoje, o mato está bem alto... tem chovido muito aqui. Justamente para falar sobre alguém que chegou junto com uma chuva, aqui estou eu, debruçada sobre esse teclado. Choveu mais de uma semana seguida e eu sempre me pego pensando: e os animais que não têm lugar pra ficar e recebem toda essa chuva e frio? Quando estou sob minhas cobertas quentes, realmente penso neles...! No sábado passado (hoje faz exatamente 8 dias), estávamos chegando do centro e na porta havia uma pequenina criatura, arrasada, amedrontada: era uma gatinha, que de tão magra, temi por algumas vezes quebrar seus ossinhos. Desci do carro para olhá-la e ela veio miando pra mim, caminhando como podia. Estava imunda, num estado lamentável... Sob protestos de meu marido, a recolhi. Como eu poderia comer, dormir, tendo isso na consciencia? a negação a ajudar uma pequena gata, que sabe Deus como, viera parar alí?
Logo que dei seu primeiro banho, dei-lhe comida e água limpa. Percebi que iria novamente travar uma batalha com a morte... não era a primeira vez que eu ia tentar retirar um animal da morte certa. Ela estava muito frágil, eu pedi ajuda para ela a uma amiga e consegui algum medicamento... Passou-se um dia, dois... E todos os dias eram um ritual: Limpar o lugarzinho dela, retirar os panos que ela tinha sujado com a diarreia, trocar por panos novos, mas cuidar de passar ferro neles para que eles estivessem numa temperatura amena para a pequena. Fazer o soro caseiro e preparar uma coisa que me ensinaram a fazer com o arroz pra ela. Depois de limpa e alimentada, eu a prendia na contura,embalada como um bebê índio. Se eu não ficasse com ela, ela chorava muito. Mas ontem, eu percebi que apesar de meus parcos esforços, a minha querida não iria sobreviver. Ela não quis comer, forcei-lhe uma sopinha que eu preparei pra ela, batida no liquidificador... Dei-lhe o soro... mas eu sabia: a minha nova e pequenina amiga estava me deixando. Onte a noite fiquei o máximo que pude a ela, dizendo-lhe palavras carinhosas: Que ela era linda, era uma princesa e que tudo ia ficar muito bem. Que tinha sido um prazer tê-la encontrado ali na porta... Eu me tornei uma pessoa melhor nesses dias. Dizia-lhe que eu não era a sua mãe, mas que ela me permitisse ocupar esse lugar, por que eu queria muito que ela vivesse e teria o maior prazer em acordar mais cedo para limpá-la e alimentá-la antes de ir trabalhar. Que seria um prazer chegar pra almoçar e primeiro dar de comer a ela. Que a noite eu me sentiria muito feliz se ela quisesse continuar comigo, amarrada na minha cintura, dormindo, tranquila.
Mas eu sabia, ela estava sentindo muitas dores, o remédio não fazia efeito. Por fim consegui fazê-la dormir, mais de 3 da manhã e ela não foi dormir no seu lugarzinho no outro quarto. Ela dormiu ao lado da minha cama: eu depositei a ão sobre o corpinho dela, para ela ver que eu não iria deixá-la morrer sozinha. , disse-lhe eu. às 6 da manhã, acordo com os gritos dela. Definitivamente, ela estava indo. Limpei-a devagar, sorri-lhe e disse-lhe que estava tudo bem, que Deus iria curá-la em outro plano. Mais tranquila, ela voltou a cochilar e eu também. Acordei às sete, com ela miando, morrendo. Aos prantos, sentei-me na cama e segurei-a como a um bebê. Eu nunca vou me conformar em ver esses animais, seres indefesos, sendo vítimas da maldade dos homens. Embalei-a e vi que o sol estava saindo... Então lembrei que em algum lugar e u li que o sol era Jesus Cristo. Era uma bonita analogia e ela estava muito fria. Deitei-a de forma que ela pudesse sentir o calor do sol no seu rostinho muito magro.
De olhos vidrados, ela morreu instantes depois. Chorei muito e então resolvi que ela merecia dormir num lugar bonito. Ajeitei-a num pano preto e arranquei de um arranjo, uma flor branca. Com uma pequena pá de jardim, adentrei o mato ao lado do condomínio. Estava um dia lindo, lá estava cheio de pássaros cantando. As arvores pareciam criar ali uma egregora diferente do resto do lugar. Cavei e depositei-a ali, aos pés da árvore enorme. Eu vou sempre lembrar de você, minha querida. Agora quando eu olhar para as árvores aqui do lado, não hoje, não amanhã, mas um dia meu coração voltará a ver o lugar como um lugar bonito. Hoje, vejo-o apenas como um lugar onde uma amiguinha que me deu sua graça por 8 dias, está.

Descança em paz. Resnasça. Quero vê-la feliz. Quero sentir que te ajudei de alguma forma.



Para os protetores que perdem amigos todos os dias.